Toda cidade tem seu centro e seus bairros periféricos. Usando essa metáfora, do mesmo modo a memória humana é como uma grande cidade que tem seu centro consciente, que chamo de Memória de Uso Contínuo (MUC), e seus inumeráveis bairros periféricos inconscientes, que chamo de Memória Existencial (ME). A MUC tem os segredos para nos fazer pensar, interpretar, atuar, trabalhar, relacionar-se no presente.
A ME tem os segredos de nossa identidade, nossa história existencial tecida desde a vida intrauterina. Quantas informações possuímos na ME ou inconsciente? Bilhões. E na MUC ou consciente? Milhões. Tudo que está na MUC, no centro, pode com o tempo ir para a ME, a periferia, e muitas experiências que estão na ME podem retornar ao centro. Desse modo o consciente e o inconsciente têm vias de mão dupla.
Não aprecio muito os termos memória de curto prazo e memória de longo prazo apontados na neurociência.
São bons termos, mas engessados. Quando entendemos a cidade da memória e a Teoria das Janelas, vemos que o trânsito de reações, pensamentos e emoções flui constantemente entre a MUC e a ME, entre o consciente e o inconsciente, o presente (curto prazo) e o passado (longo prazo).
Você acabou de encontrar uma amiga de infância. Havia décadas que não a via e não se recordava mais dela, nem de todas as aventuras que viveram juntas.
As informações sobre ela estavam em janelas na ME. Mas ao vê-la e iniciar um diálogo, aciona-se o gatilho da memória, que é um fenômeno inconsciente que abre as janelas do passado.
De repente, um bairro inteiro desse passado se deslocou da periferia para o centro, a MUC, e você começa a fazer inúmeras recordações que “aparentemente” estavam apagadas.
Na realidade estavam adormecidas na ME.
(Livro Mulheres inteligentes, relações saudáveis)
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