Desde muito nova, Maria, na casa de Hanan, seu pai, alimentava em segredo o desejo, como muitas outras moças judias, de que o Rei Messias que estava sendo esperado fosse concebido em seu ventre. A imagem do Filho do Homem, que os profetas descreveram tão vivamente, enraizara-se no seu coração. Renunciou, por isso, às alegrias e diversões que a vida do Templo podia oferecer a uma jovem de sua posição. Era em vão que as amigas insistiam para que ela as acompanhasse em seus passeios pelos pomares de Jerusalém. Após o encerramento do ofício anual do Dia da Expiação, depois que o sumo sacerdote havia sido carregado com grande pompa para sua residência, era costume as moças de Jerusalém reunirem-se nos pomares adjacentes, para onde também seguiam os rapazes da cidade e os visitantes do interior que haviam feito a peregrinação.
Cada um dos rapazes escolhia para si uma
moça, entre todas elas, que, em fileiras sucessivas, gritavam para os jovens:
“Não pensem em nossa riqueza nem na nossa beleza. Considerem apenas as famílias
das quais descendemos”.
Maria não participava dessas reuniões
entre os jovens. Sozinha, ela imaginava como deveria ser o Messias, e o que
representaria ser a mãe dele. Inesperadamente, surpreendia-se com a presunção
de seus pensamentos. Envergonhada e contrita, pedia perdão a Deus por tão alta
pretensão. Quem era sua família e quem era ela para achar que seria a
escolhida, entre tantas pretendentes, para embalar em um berço o Ungido de
Israel?
Era verdade que o Messias seria um descendente
da Casa de Davi, mas outros ramos mais importantes da família tinham mais direito
a essa glória do que uma jovem nazarena esquecida e órfã de pai. E ela ainda
nem era casada. E talvez o Messias já tivesse nascido. Talvez estivesse até
mesmo andando entre eles, sem ser reconhecido, ou, mais provavelmente, sentado
entre os sábios e os pregadores da Lei, os rabinos que disseminavam a Palavra
de Deus entre os adultos e as crianças de Israel, as pessoas que habitavam a
Cidade Santa e caminhavam em busca de algum sinal da Presença do Senhor.
A casa de seu falecido pai ficava na
humilde cidade de Nazaré, tão infecunda da Palavra de Deus como uma pedra plantada
em um campo de trigo. Quem era, pois, ela para ser mãe do Rei Messias? Ela não
passava de um broto ressequido de uma velha árvore entre os cedros do Líbano. Naqueles
momentos de grande abatimento, a jovem dirigia suas orações a Deus, implorava
para que Ele lhe concedesse a graça da humildade e livrasse sua alma de uma
falsa aspiração.
Mas o sonho que ela procurava afastar de
si tornava a voltar. Via no âmago de sua alma a imagem do Messias, alimentava-a
com lágrimas durante as compridas noites em Jerusalém, e ansiava poder contemplá-lo
um dia com seus olhos. Em outras ocasiões, ajoelhando-se no Pátio das Mulheres
no Templo, ela curvava a cabeça até o chão, não com o intuito de orar para
obter uma graça especial, mas somente para aliviar o peso de seu coração.
Esquecendo-se do lugar em que se encontrava, ou do rigor da cerimônia, cantava
com os salmistas: “Como suspira a corça pelas correntes das águas,
assim,
por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus,
do
Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Salmos 42.1,2).
Toda vez que Maria se levantava do chão,
depois de um daqueles momentos adorando a Deus, seus olhos brilhavam admiravelmente,
enquanto seu rosto adquiria uma palidez intensa. Algum visitante que, por
acaso, passava perto, desviava-se do seu caminho, achando que ela era uma das
mulheres histéricas que costumavam perambular pelos pátios do Templo.
Certa ocasião uma velha profetisa, famosa entre
as mulheres de Jerusalém, aproximou-se de Maria enquanto esta se achava
mergulhada em um daqueles momentos de adoração. A mulher era uma viúva
decrépita que perambulava nas alas permitidas às mulheres dentro do Templo. Podia
manter-se em jejum durante semanas. Seu corpo parecia um feixe de varas metido em
um saco amarrotado. Do rosto só era possível ver os olhos enterrados em duas
covas profundas. Contavam-se muitas histórias a seu respeito. Todos tinham o
máximo respeito por ela.
Há alguns dias a velha profetisa observava
Maria no Pátio das Mulheres. Certa vez, apontando para Maria o seu dedo
esquelético e torto, disse, com sua voz esganiçada, para todas as mulheres
ouvirem:
— Marquem bem o rosto desta moça. Ela é
uma filha da Casa de Davi, e de seu ventre sairá o Redentor de Israel.
Maria ouviu essas palavras e assustou-se.
Corou, envergonhada, e voltou correndo para a sua roca a fim de continuar
tecendo nas oficinas do Templo.
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