— A paz seja contigo, filha de Hannah, pois o Senhor é contigo!
Foi somente ao ouvir o anjo saudá-la numa
voz humana que Maria percebeu mais uma vez a sua própria natureza terrena.
Compreendeu que realmente estava diante de um ser celestial. Sentiu-se
novamente atemorizada. Tornou a ser uma jovem humilde e trêmula, o coração a
pulsar-lhe fortemente, a agitar no peito o xale desbotado da mãe. Maria abaixou
o olhar, como se quisesse desaparecer no chão. Seus cabelos grudaram-se à sua testa
e ao pescoço úmidos. Seu rosto se tornou pálido, suas mãos começaram a tremer.
O anjo falou outra vez. Sua voz soou estranhamente distante:
— Não temas, Maria, pois caíste na graça
de Deus! E atenta no que vou te dizer: irás conceber e dar à luz um filho, a
quem darás o nome de Jesus. Ele será um grande homem. O chamarão o Filho do
Altíssimo, e o Senhor lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará sobre a
casa de Davi para todo o sempre, e o seu reinado será eterno.
Maria, com muito medo e trêmula, ficou com
os olhos postos no chão enquanto ouvia em silêncio as palavras do anjo. Assim
que ele acabou de falar, ergueu a cabeça e fitou-o novamente com tristeza,
perguntando-lhe depois com suavidade:
— Como poderá ser isso se nunca dormi com
aquele que será meu esposo?
E o anjo respondeu:
— O Espírito Santo descerá sobre ti, e o
poder do Altíssimo te protegerá. Portanto, o ser sagrado que sairá do teu
ventre será chamado Filho de Deus e Salvador da Humanidade.
Maria permaneceu silenciosa durante algum
tempo. Fechou os olhos. As cores, porém, haviam voltado ao seu rosto, dando-lhe
a sensação de um calor intenso e o brilho de um fogo sagrado. Quando os abriu
novamente, viu que o anjo não estava mais no seu quarto.
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