Os pátios do Templo, ladeados de colunas que terminavam em arco, davam acesso a inúmeras salas e câmaras, algumas abertas, outras fechadas ao público. Os peregrinos que se comprimiam nessas salas comentavam que havia labirintos secretos e passagens subterrâneas debaixo do solo onde eles pisavam, os quais – dizia-se – eram profundos e ficavam debaixo da adega do Templo, tendo sido escavados no tempo de Salomão, ou mesmo antes.
Cada uma dessas passagens tinha um nome,
como o de “caverna de Elias” ou “Poço de Jeremias”. Outras histórias falavam de
passagens proibidas, cujos caminhos iam dar nas regiões do mundo superior, espiritual.
Dizia-se que uma delas conduzia ao Jardim do Éden, outra ao túmulo do patriarca
Abraão. Contava-se ainda que em outra imensa câmara subterrânea do Templo viviam
as mães que haviam tido participação na história sagrada de Israel. Como toda
peregrina devota, a jovem Maria acreditava piamente na existência dessas
passagens subterrâneas. Achava que no subsolo do Templo ficava a moradia das matriarcas
de Israel, e que Raquel e Rute descansavam à sombra mística do Templo.
Nos sábados e dias de festa, Maria permanecia
com sua prima Elisheva no Pátio das Mulheres observando os levitas que, com
suas harpas e enfileirados na escada que conduzia ao santuário, entoavam o
Cântico da Ascensão. Nessas ocasiões, os pátios do Templo enchiam-se de peregrinos
vindos de todas as partes do império romano e de todos os cantos da Terra Santa.
A maioria deles ficava ajoelhada ou deitada no chão, enquanto no interior do
Templo os sacerdotes realizavam os sacrifícios do dia. Profundamente comovida,
Maria costumava fechar os olhos e via, nesses momentos, o santíssimo patriarca Israel
cercado de anjos e serafins diante do Senhor no seu trono de Glória, o qual
aparecia em sua imaginação como uma chama ardente com rodas incandescentes de fogo.
Elisheva iniciou Maria nos mistérios do
Messias, e apresentou-a a uma irmandade de mulheres consagradas, que formavam um
círculo íntimo. Havia entre mulheres que se reuniam na parte superior da casa
de Elisheva, muitas velhas de olhos cinzentos, encovados, e de maçãs salientes,
e jovens de sobrancelhas altas, arqueadas, em um rosto pálido. Essas mulheres
eram filhas de sacerdotes e de famílias nobres, procedentes de todas as
províncias do país e de fora. Tinham vindo à Jerusalém para trabalhar nas
oficinas do Templo, fiar o mais fino linho, tecer e bordar as suas cortinas e
as vestes sagradas para os sacerdotes e levitas que ali trabalhavam.
(Continua amanhã)
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