As crianças receberam bolinhos de mel e
amêndoas para melhor se lembrarem da ocasião, e para os adultos, várias mesas foram
postas cheias de fatias de melão, figos secos, passas, ameixas, damascos,
pedaços de romãs embebidos em vinho, e refrescos, tal como o magnífico suco de
aspargo, para que todos pudessem suportar o calor do meio-dia. Além disso, as
mulheres prepararam tâmaras e bolos amassados com mel – denominados folhados de
mel, como lembrança do maná do deserto, e pastéis embebidos em leite. Desde o
encerramento da cerimônia na sinagoga até o pôr do sol, todos os habitantes da
cidade passavam pelo quintal da casa de Hannah para se servirem do que estava à
disposição sobre aquelas mesas fartas.
As filhas dos vizinhos, amigas da noiva,
foram as primeiras a chegar. Trouxeram coroas de miosótis e margaridas para adornar
a cabeça e os ombros da noiva. Agruparam-se depois em ambos os lados do quarto,
as mais enfeitadas atrás e as mais simples na frente. As jovens de família
nobre ficavam também atrás. Desta forma, na sua beleza simples e origem
modesta, a noiva irradiava livremente seus encantos sem que houvesse
rivalidade, e o noivo não ficaria tentado a lançar os olhos sobre as outras.
Chegaram depois, segundo o costume, os
homens, seguidos de suas mulheres e filhos. Não levou muito tempo para que a
pequena casa se enchesse de alegres visitantes. Subitamente, porém, surgiu na
pequena sala, pedindo licença ou simplesmente empurrando as pessoas, a figura
solene e ossuda de Reb Hanina ben Safra, o sacerdote local da casa dos Pinhas.
Ele entrou arrogantemente, seguido de seus seis filhos já moços, os quais se
postaram atrás dele à semelhança de uma barreira de ciprestes.
O sacerdote e seus filhos permaneceram de
pé, apesar de Reb Elimelech e a viúva Hannah o terem convidado para sentar-se à
cabeceira da mesa, ao lado do rabino, e de outras pessoas mais humildes terem se
levantado para dar o lugar para eles. Ficou ali no centro da sala, os olhos
escuros e severos sob as sobrancelhas grisalhas, os dedos cobertos de anéis, o
longo manto branco descendo até o chão. Cravando o olhar – um olhar penetrante
que adquirira com a sua profissão de sacerdote – no rosto pálido do noivo, o
qual se achava sentado num banco separado, ao lado da noiva, o sacerdote perguntou
com uma voz eivada de rancor:
— Quais foram as investigações que se
fizeram para se ter a certeza sobre a origem desse jovem, o qual não sabemos de
onde veio, e pretende agora casar-se com uma de nossas mais nobres filhas?
Caiu sobre a sala um grande silêncio. Era
sabido de todos que Reb Hanina ben Safra se considerava um sábio e o mais versátil
orador em todas as reuniões públicas. E sabia-se que ele tinha um parentesco
longínquo com a noiva por parte da mãe, de maneira que se achava um parente de
Maria com todas as suas prerrogativas. Mas também era notório que Reb Hanina
alimentava esperanças de poder casar a jovem órfã, filha da Casa de Davi, com
um de seus seis filhos.
Portanto, aquela demonstração de zelo poderia
muito bem ter como motivo um interesse pessoal. Os presentes, portanto,
esforçaram-se para não dar atenção às suas palavras, torcendo para que ele
fosse embora e não perturbasse o alegre acontecimento, causando desgosto à
noiva. Todos continuavam cheios de simpatia pelo jovem forasteiro, cujas
qualidades o sacerdote procurava diminuir perante tão grande número de pessoas.
Finalmente um dos convidados, para aliviar a tensão reinante, voltou-se para as
crianças e, dando-lhes nozes e amêndoas, disse-lhes:
— Vocês agora, crianças, quando crescerem,
devem lembrar-se de que estiveram presentes ao noivado de Maria com José ben
Jacó, da casa de Davi, e que receberam nozes e amêndoas como lembrança desse
noivado.
(Continua amanhã)
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