CAPÍTULO III
A SITUAÇÃO DAS MULHERES
EM ISRAEL
ERA O SONHO de todas as moças em Israel ir a
Jerusalém para participar dos trabalhos nas oficinas do Templo – tecer
indumentárias para os sacerdotes e cortinas para as inúmeras salas e câmaras do
Santuário. Para as filhas de famílias nobres ou ricas, era um desejo muito fácil
de ser realizado, pois geralmente tinham parentes influentes que moravam em
Jerusalém. Mas para as de famílias pobres da Galileia, isso era um sonho quase impossível
de ser realizado.
Embora houvesse na região da Galileia lugares
onde se teciam cortinas para o Templo, Reb Hanan achara que sua filha mais
moça, Maria, deveria ir até Jerusalém, como as demais moças de melhores
condições financeiras. Assim, quando o parente da esposa, Zacarias, filho de
Aarão, do ramo de Abijah, foi nomeado para os ofícios sagrados no interior do
Templo, Hanan viajou com sua filha Maria até a cidade montanhosa de Ain Karim,
cidade de Judá, que ficava a seis quilômetros a ocidente de Jerusalém. Entregou
a Moça aos cuidados de Elisheva (Isabel), esposa do sacerdote Zacarias, que
ficariam responsáveis por ela nos dias em que passasse na cidade.
A lei havia sido muito deficiente no tocante às
obrigações sacras impostas às moças em Israel. As mulheres não eram consideradas
pelo que representavam com seus dons, conhecimentos e virtudes. Eram vistas
tão-somente como complementos de seus maridos. Na opinião dos homens, o trabalho
mais importante da mulher era a concepção de filhos. Consequentemente, a função
que mais orgulhava uma mulher não era a de esposa, ou de virgem, porém a de
mãe. Toda moça em Israel alimentava essa ambição – casar-se com um homem
honesto e dar-lhe filhos.
Como consequência, a posição de uma criança do
sexo feminino era de pouco valor. Ninguém se dava ao trabalho de dar-lhe um
nome que profetizasse algo de grandioso para sua vida. Adotavam simplesmente o
nome de uma matriarca ou de alguma heroína que tivesse se destacado na história
de Israel. Maria era o mesmo que Miriam, a irmã de Moisés, cuja grata lembrança
vivia acesa nos corações dos judeus. O nome era dado frequentemente às
recém-nascidas, mesmo que houvesse na família outras mulheres com o mesmo nome.
Foi o que aconteceu com as filhas de Hanan. Ambas se chamavam Maria. Para distinguirem
uma da outra, chamavam uma de “a primogênita”, e a outra de “a caçula”. Com o
tempo, a mais velha passou a chamar-se de Mariama, à moda aramaica.
Apesar disto tudo na história do antigo
Israel, algumas mulheres foram consideradas heroínas. Muitas delas tornaram-se imortalizadas
pelas Escrituras e colocadas ao lado de seus esposos nos degraus mais altos da
escada divina que Jacó viu em Betel. Sara tornou-se o principal fator na formação
da nação, assim como foi seu esposo. Do mesmo modo, outras mulheres que surgiram
depois – Miriam (Maria), Débora ou Hannah (Ana), mãe de Samuel – criaram raízes
no espírito e na memória do povo. Essa devoção, porém, não era reservada apenas
para as mulheres nascidas em Israel. Houve o caso de Rute, a quem o Senhor
favorecera mais do que a qualquer mulher israelita, fazendo com que ela passasse
a fazer parte da Casa de Davi, na qual estava alicerçada as esperanças de
salvação de todos os judeus.
Porém, entre todas as mães em Israel,
nenhuma era mais amada do que Raquel, a noiva eleita de Jacó. Por ela o filho
de Isaque trabalhara duramente durante sete anos, após ter exercido sua função
de pastor durante outros sete por sua irmã Lia, que ele não amava e por quem
jamais trabalharia se não tivesse sido trapaceado por seu tio Labão. Foi com
dores e agonia que Raquel deu à luz seu primeiro filho, José. Ela morreu ao dar
à luz outro filho, Benjamim. Entre as matriarcas, foi a única que não colocaram
no sepulcro patriarcal para partilhar da sombra de Abraão, Isaque e Jacó, seu esposo
apaixonado. Em contrapartida, colocaram naquele solene sepulcro sua rival Lia.
Raquel foi enterrada às pressas, à beira
da estrada, nas proximidades de Belém, como se fosse pedra inútil que alguém removesse
e atirasse fora do seu caminho. Contudo, até nisso a Providência do Senhor agiu.
Ela fora enterrada à margem da estrada pela qual, anos depois, Nabucodonosor,
rei da Babilônia, levaria cativos os judeus para o exílio. Raquel ficou sendo o
símbolo da mãe sofredora de Israel, aquela que carregava sobre seus frágeis
ombros femininos todas as amarguras do povo.
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