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terça-feira, 5 de abril de 2022

JOSÉ É APRESENTADO À CONGREGAÇÃO NAZARENA

 

CAPÍTULO 2 


NO PRIMEIRO SÁBADO, Reb Elimelech apresentou seu parente José ben Jacó à congregação que se achava reunida na sinagoga de Nazaré. A população da pequena cidade consistia, em sua maior parte, de algumas honradas famílias. Havia a do falecido Reb Hanan e a de Reb Elimelech, ambas descentes da Casa de Davi. Havia também os filhos de Pinhas, uma família de pequenos sacerdotes, cujo tronco era Aarão, o primeiro sumo sacerdote de Israel; as famílias da tribo de Issachar, e representantes da casa de Zadok.

      Cada família tinha a sua própria profissão. Os filhos de Davi eram carpinteiros; os de Issachar eram fabricantes de sândalo e secadores de frutas. Cultivavam nozes e tâmaras e forneciam à cidade lenha dos montes das proximidades. Quanto aos filhos de Pinhas, a posição deles dava-lhes o direito de viver dos dízimos do povo. Mas esses dízimos eram insuficientes para a subsistência deles, pois a população de Nazaré era demasiado pobre. Como tinham pouquíssimas chances de serem convocados para servir no Templo de Jerusalém, sustentavam-se como oleiros, negociando suas mercadorias no centro comercial de Sepphoris e nas cidades da planície de Jezrael.

      Os contínuos casamentos entre as moças e os rapazes da cidade fizeram com que Nazaré se tornasse uma comunidade unida, onde todos conheciam uns aos outros há muitas gerações. Aparentemente, a ninguém causou surpresa que o jovem José fosse imediatamente reconhecido pelos seus parentes. Ele parecia muito com o pai. Ao acolherem o filho, felicitaram a volta da casa de Reb Jacó a Nazaré, e o acolhimento foi ainda mais cordial quando souberam que o jovem viera para casar-se com uma de suas filhas e construir a sua casa entre eles. O projeto de casamento não foi mantido em segredo. Ambos os lados o anunciaram, tanto Reb Elimelech, que se considerava o parente mais próximo do pretendente, quanto Hannah, a mãe da jovem.

Era necessário que toda a cidade soubesse que certo jovem, cujo pai vivera ali, queria desposar uma jovem de Nazaré, de modo que, se qualquer pessoa se opusesse ao casamento ou desejasse fazer qualquer denúncia contra o noivo ou a noiva, podia apresentar-se e falar antes que fosse demasiado tarde. E assim, toda a cidade soube que, naquele Sábado, a jovem ficaria o dia todo na casa da mãe para receber a visita dos parentes e amigos que viriam parabenizá-la, e que no quarto dia da semana seguinte, isto é, na quarta-feira, seria assinado o contrato de casamento de conformidade com a Lei de Israel.

      José foi aceito como membro da comunidade. O rabino da cidade, Reb Jochanan, um dos filhos de Zadok, pediu-lhe que subisse os degraus que conduziam à arca dos pergaminhos. José obedeceu. Ele usava uma túnica branca, limpa, sem mangas, que era o seu vestuário dos dias de festa. Seus cabelos escuros estavam partidos ao meio e desciam lisos pelo pescoço, emoldurando-lhe a fisionomia. O rosto magro, que terminava numa pequena barba pontuda, refletia uma dignidade vigorosa ao atravessar a nave da sinagoga. Somente seus olhos pareciam receosos e acanhados.

      Ele mesmo teria de escolher o livro, o trecho onde leria e efetuar a leitura em voz alta, para que todos ouvissem. Sentindo-se ligeiramente nervoso, José escolheu aleatoriamente um pergaminho, colocou-o sobre a mesa de leitura, desenrolou-o quase até o final, e leu perante a congregação: ”O Espírito do Senhor Jeová está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes; a ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê ornamento por cinza, óleo de gozo por tristeza, veste de louvor por espírito angustiado, a fim de que se chamem árvores de justiça, plantação do SENHOR, para que ele seja glorificado” (Is 61.1-3).

      Ouviu-se um murmúrio de aprovação da parte de todos. Depois da leitura, José ergueu o pesado pergaminho com ambos os braços, mantendo-o bem alto para que todos o vissem. O rabino levantou-se e, com dois juízes a seu lado, colocou-se ao lado do rapaz, e olhando para toda a congregação, disse:

      — Este nosso irmão José, solteiro, filho de Reb Jacó, descendente direto da família do rei Davi, voltou para a nossa cidade, que é também a cidade de seus pais, e deseja desposar Maria, filha do falecido Hanan, que era também da mesma descendência. Ele deseja estabelecer-se entre nós e construir a sua casa em nosso meio. Se houver alguém que tenha qualquer coisa a dizer contra ele, que se apresente e fale.

      A congregação manteve-se em silêncio. Porém, durante alguns minutos ouviu-se uma pequena agitação entre os jovens que estavam no fundo, principalmente entre os que faziam parte da família da noiva, e que eram os que alimentavam secretas esperanças de tomar o lugar agora ocupado pelo forasteiro. Mas passaram-se alguns minutos sem que alguém ousasse  protestar contra o recém-chegado perante o seu protetor, o venerável Reb Elimelech. O rabino virou-se para José e declarou em voz alta:

      — Bendita seja a tua vinda. Serás um de nossos irmãos!

      A congregação repetiu imediatamente as suas palavras. Mesmo alguns dos jovens, embora cheios de inveja, subiram, depois dos mais velhos, até a tribuna para cumprimentar o forasteiro com a fórmula de consagração: “Bendita seja a tua vinda entre nós, irmão!”

      E assim foi José aceito como cidadão de Nazaré.

 (Continua amanhã)

SHLOMO YITZHAK

França (1040-1105)

(Transcrito em português contemporâneo, adaptado, revisado e enriquecido por Jefferson Magno Costa)

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