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sexta-feira, 1 de abril de 2022

A família de Hannah, mãe de Maria

 


      A família de Hannah, viúva de Hanan, já se havia levantado e, como os demais habitantes da cidade, entregara-se às suas atividades domésticas. A casa em que moravam não era grande. Estava situada numa parte retirada de Nazaré, próxima ao bosque das oliveiras, que cobria todo o vale entre a montanha e a cidade. O bosque era propriedade comum. Pertencia à cidade, e todos tinham direito aos seus frutos. Uma cerca de caniços circundava a casa em três lados, separando-a do bosque. Havia um pequeno morro em frente à casa de Maria, onde os animais pastavam. Como todas as casas de Israel, a de Hannah tinha também uma horta bem cuidada, plantada de maneira a não se misturarem no mesmo canteiro às diferentes espécies de hortaliças. Toda vez que tinham de plantar uma hortaliça, faziam um mini canteiro para separá-la das demais plantações.

Uma videira estendia-se sobre uma armação arqueada. Havia lá também um pomar com algumas oliveiras e figueiras, e inúmeras romãzeiras. O pequeno rebanho consistia de uma dezena de carneiros com suas crias, e um jumento que puxava o arado e fazia o serviço de carga. Essa reduzida criação, cuidadosamente separada da moradia da família, ficava abrigada em um estábulo recoberto de folhagem seca. A cisterna situava-se atrás da casa, depois da horta, à sombra de uns ciprestes, cuidadosamente cercada de pedras e argila e, conforme a lei, protegida por forte tapume a fim de evitar qualquer acidente com animais ou pessoas (Ex 21. 33,34).

      A casa era baixa e pequena. As paredes, caiadas e lisas, formavam vários cômodos divididos por cortinas de pele de cabra. No canto da casa havia um fogão e uma ânfora (pote) de três pés. Uma abertura no teto dava vazão à fumaça. Havia uma porta, duas janelas protegidas por persianas, e pequenas aberturas na parte de cima das paredes, as quais ventilavam a casa.

      O teto era baixo e grosseiro, sustentado em toda a sua extensão por vigas de ciprestes. Nessas vigas se entrecruzavam varas de bambu cobertas com uma camada de folhas de palmeira. Somente em um dos cantos, o que dava para o lado de Jerusalém, o teto fora reforçado com bambus mais grossos, pois em cima havia um pequeno terraço completamente descoberto e ao qual se subia por meio de uma escada. Servia para a família descansar e fazer suas orações. Utilizavam-se também daquele lado do teto para secar frutas e queijo.

      No canto extremo da casa tinha uma divisão onde havia uma mesa baixa ladeada por dois bancos forrados com almofadas e xales. Também era ali que se encontrava a arca com os tesouros da família. Continha alguns rolos de pergaminho. Em um deles estavam escritas as leis que Deus entregara a Moisés. Aqueles pergaminhos tinham sido herdados de muitas gerações. Continham também o livro completo de Isaías, os Salmos de Davi e a história que descrevia a vida do grande rei, de cuja tribo descendiam. Havia também o livro de Rute, a primeira mulher a entrar na família, e finalmente o documento que elas guardavam com todo cuidado e orgulho, os registros de nascimentos, os quais traçavam a genealogia da família e sua descendência do rei Davi.

      Era naquele canto que se realizavam todas as cerimônias solenes aos Sábados, e os festivais quando o chefe da família ainda vivia. Era junto àquela mesa que toda sexta-feira, à noite, o pai preparava, com um copo de vinho, a santificação do Sábado. Era ali que se realizavam as pequenas celebrações que se seguiam às cerimônias, como a leitura das Sagradas Escrituras perante toda a família reunida, todas as manhãs e todas as noites, a fim de que se cumprisse o mandamento: “Não se aparte da tua boca o livro desta Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho e, então, prudentemente te conduzirás” (Josué 1.8). A viúva mantivera esse costume após a morte do marido. Começava e encerrava o dia lendo, em voz alta para sua única ouvinte, Maria, um versículo do Livro.

Como em todo lar judeu, o espaço destinado aos homens em casa de Hannah era separado do das mulheres. A viúva continuou mantendo essas divisões mesmo depois que a filha Mariama fora morar com a família do marido, e deixara a mãe e a irmã morando na casa. Agora Hannah podia isolar-se em sua própria câmara e ali ficar sem ser perturbada todas as vezes que desejasse estar a sós. Era nesse lugar que se refugiava e orava.

Além da cama, havia no aposento de Hannah uma jarra de barro, uma arca com roupas e o contrato de seu casamento, sem o qual não teria podido viver legalmente com o marido. À semelhança da dona da casa, a filha mais nova também passou a ter o seu próprio quarto assim que atingiu a maioridade. Nele, além da cama de Maria, estava o tear em que Hannah tecera o vestuário do marido, o seu e o das filhas.

(Continua amanhã)

SHLOMO YITZHAK

França (1040-1105)

(Transcrito em português contemporâneo, adaptado, revisado e enriquecido por Jefferson Magno Costa)

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