A família de Hannah, viúva de Hanan, já se havia levantado e, como os demais habitantes da cidade, entregara-se às suas atividades domésticas. A casa em que moravam não era grande. Estava situada numa parte retirada de Nazaré, próxima ao bosque das oliveiras, que cobria todo o vale entre a montanha e a cidade. O bosque era propriedade comum. Pertencia à cidade, e todos tinham direito aos seus frutos. Uma cerca de caniços circundava a casa em três lados, separando-a do bosque. Havia um pequeno morro em frente à casa de Maria, onde os animais pastavam. Como todas as casas de Israel, a de Hannah tinha também uma horta bem cuidada, plantada de maneira a não se misturarem no mesmo canteiro às diferentes espécies de hortaliças. Toda vez que tinham de plantar uma hortaliça, faziam um mini canteiro para separá-la das demais plantações.
Uma videira estendia-se sobre uma armação arqueada.
Havia lá também um pomar com algumas oliveiras e figueiras, e inúmeras
romãzeiras. O pequeno rebanho consistia de uma dezena de carneiros com suas
crias, e um jumento que puxava o arado e fazia o serviço de carga. Essa reduzida
criação, cuidadosamente separada da moradia da família, ficava abrigada em um estábulo
recoberto de folhagem seca. A cisterna situava-se atrás da casa, depois da
horta, à sombra de uns ciprestes, cuidadosamente cercada de pedras e argila e,
conforme a lei, protegida por forte tapume a fim de evitar qualquer acidente
com animais ou pessoas (Ex 21. 33,34).
A casa era baixa e pequena. As paredes,
caiadas e lisas, formavam vários cômodos divididos por cortinas de pele de
cabra. No canto da casa havia um fogão e uma ânfora (pote) de três pés. Uma
abertura no teto dava vazão à fumaça. Havia uma porta, duas janelas protegidas
por persianas, e pequenas aberturas na parte de cima das paredes, as quais ventilavam
a casa.
O teto era baixo e grosseiro, sustentado em
toda a sua extensão por vigas de ciprestes. Nessas vigas se entrecruzavam varas
de bambu cobertas com uma camada de folhas de palmeira. Somente em um dos
cantos, o que dava para o lado de Jerusalém, o teto fora reforçado com bambus
mais grossos, pois em cima havia um pequeno terraço completamente descoberto e
ao qual se subia por meio de uma escada. Servia para a família descansar e
fazer suas orações. Utilizavam-se também daquele lado do teto para secar frutas
e queijo.
No canto extremo da casa tinha uma divisão
onde havia uma mesa baixa ladeada por dois bancos forrados com almofadas e
xales. Também era ali que se encontrava a arca com os tesouros da família.
Continha alguns rolos de pergaminho. Em um deles estavam escritas as leis que
Deus entregara a Moisés. Aqueles pergaminhos tinham sido herdados de muitas gerações.
Continham também o livro completo de Isaías, os Salmos de Davi e a história que
descrevia a vida do grande rei, de cuja tribo descendiam. Havia também o livro
de Rute, a primeira mulher a entrar na família, e finalmente o documento que
elas guardavam com todo cuidado e orgulho, os registros de nascimentos, os quais
traçavam a genealogia da família e sua descendência do rei Davi.
Era naquele canto que se realizavam todas as
cerimônias solenes aos Sábados, e os festivais quando o chefe da família ainda vivia.
Era junto àquela mesa que toda sexta-feira, à noite, o pai preparava, com um
copo de vinho, a santificação do Sábado. Era ali que se realizavam as pequenas
celebrações que se seguiam às cerimônias, como a leitura das Sagradas Escrituras
perante toda a família reunida, todas as manhãs e todas as noites, a fim de que
se cumprisse o mandamento: “Não se aparte da tua boca o livro desta Lei; antes,
medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto
nele está escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho e, então,
prudentemente te conduzirás” (Josué 1.8). A viúva mantivera esse costume após a
morte do marido. Começava e encerrava o dia lendo, em voz alta para sua única
ouvinte, Maria, um versículo do Livro.
Como em todo lar judeu, o espaço destinado aos
homens em casa de Hannah era separado do das mulheres. A viúva continuou
mantendo essas divisões mesmo depois que a filha Mariama fora morar com a
família do marido, e deixara a mãe e a irmã morando na casa. Agora Hannah podia
isolar-se em sua própria câmara e ali ficar sem ser perturbada todas as vezes
que desejasse estar a sós. Era nesse lugar que se refugiava e orava.
Além da cama, havia no aposento de Hannah uma
jarra de barro, uma arca com roupas e o contrato de seu casamento, sem o qual
não teria podido viver legalmente com o marido. À semelhança da dona da casa, a
filha mais nova também passou a ter o seu próprio quarto assim que atingiu a
maioridade. Nele, além da cama de Maria, estava o tear em que Hannah tecera o
vestuário do marido, o seu e o das filhas.
(Continua amanhã)
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