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segunda-feira, 4 de abril de 2022

José é Anunciado na Casa de Maria

 


A viúva e a moça saudaram o visitante e retribuíram-lhe as saudações: “Shalom aleichem” (“Que a paz seja convosco”). De conformidade com o costume da família, acolheram o parente com um beijo na face e conduziram-no para o lugar de honra, o assento do chefe junto à mesa.

A jovem Maria apressou-se em colocar refrescos diante do visitante e um prato com nozes, amêndoas, passas e um pão asmo. Reb Elimelech rendeu graças antes de comer um ou outro fruto que lhe haviam oferecido, de depois, segurando um pedaço do pão, explicou a razão de sua vinda com um versículo das Sagradas Escrituras:

— O rei Salomão, que a paz de Deus seja com ele, disse: “Lança o teu pão sobre as águas, porque, depois de muitos dias, o acharás” (Eclesiastes  11.1). Foi o que aconteceu agora. Meu primo Jacó, o qual, conforme você sabe era parente do seu marido, há tempos viveu aqui conosco. Deixou a cidade há muitos anos e dirigiu-se para as montanhas da Judéia. Nunca mais o vi nem tive notícias dele desde então. Somente hoje é que me chegaram informações sobre sua pessoa. Tinham-se passados tantos anos que eu receava que esse ramo da nossa família tivesse desaparecido para sempre em Israel. O pão que foi lançado às águas voltou hoje para nós! Um estranho bateu hoje à minha porta ao romper do dia. Quando lhe perguntei quem era, ele respondeu: “Sou seu parente. Meu pai, que a paz de Deus seja com ele, era seu primo e chamava-se Bar Jacó, da casa de Davi, e eu me chamo José”.

— Sim, recordo-me do dia em que acompanhei Reb Jacó até fora da cidade — interrompeu a viúva. — Meu marido foi com ele até uma distância de duas milhas.

      Enquanto falava, Hannah protegia os olhos vermelhos contra a luz da lâmpada, erguendo até a testa a mão calejada pelo trabalho.

      — Encontramos novamente o pão que lançamos às águas —. prosseguiu Reb Elimelech. — Reb Jacó morreu, mas o seu filho, que é um homem forte e temente a Deus, voltou para a terra natal do pai.

      — E qual é o objetivo da vinda desse jovem? Ele pretende ficar aqui conosco?

       — Sim, pois trouxe consigo a habilidade de suas mãos, a profissão de nossa família. Ele também é carpinteiro.

      Neste momento, Reb Elimelech fez um discreto sinal com a cabeça para a viúva, e ela compreendeu imediatamente o que ele queria dizer. Hannah virou-se para a filha e disse:

      — Os animais têm que comer amanhã bem cedo e já está ficando tarde. Vá deitar-se, minha filha. Eu ainda fico aqui conversando um pouco com o seu tio.

      Maria levantou-se, curvou-se diante da mãe e do tio, e retirou-se para o seu quarto. Assim que ela saiu, Reb Elimelech continuou:

      — Quando meu irmão, o seu marido, Reb Hanan, adoeceu e soube que logo iria ajuntar-se aos nossos antepassados, chamou-me junto ao leito e me fez jurar que eu faria com que a sua caçula Maria só se casasse com um homem de uma família que nos conviesse e fosse da Casa de Davi. Ele amava a caçula mais do que a própria vida, porque ela alegrara a sua velhice.

      — De fato, foi isso mesmo — confirmou a viúva. — Meu marido sempre desejou um filho que construísse o seu lar em nosso país Israel, antes ou depois que ele morresse. Deus, porém, certamente por causa dos meus pecados, não me concedeu a graça de poder oferecer-lhe um filho homem. Quando a caçula nasceu e ele viu que era mais uma filha, disse-me — lembro-me como se fosse hoje: “Não te preocupes, minha esposa, pois eu amarei essa minha filha mais do que a dez filhos”.

      E assim Maria ficou sendo para ele como um grande presente que Deus lhe dera. Meu marido a criou como o filho que ele não teve. Ensinou-lhe a ler e a estudar os mandamentos da Lei. Quando ela completou 15 anos, ele mandou-a a Jerusalém e deixou-a por algum tempo na casa de meu irmão Zacarias e outros parentes que eu ainda tenho por lá, a fim de que ela pudesse servir no Templo do Senhor com suas habilidades, conforme sempre fazem as moças israelitas.

      — E agora o Senhor me permitiu que eu cumprisse a promessa que fiz ao seu esposo —, disse Reb Elimelech rapidamente antes que ela pudesse continuar. — Saiba, pois, Hannah, filha de Jochebeth: o jovem que cruzou hoje a soleira de minha porta descende, como nós, da linha pura e sagrada de nosso pai Davi e da nossa avó Ruth. A finalidade de sua vinda à nossa cidade é esta: se for do seu agrado e do agrado de sua filha, ele estará disposto a recebê-la como esposa e construir o seu lar em Israel, aqui conosco, em nossa cidade.

      — Quando ele me confessou isto — continuou Reb Elimelech —, resolvi vir hoje mesmo à noite defender a sua causa diante da mãe da jovem, pois esse rapaz me despertou muita simpatia. Ele teme a Deus e, mesmo que seus conhecimentos dos mandamentos do Senhor não sejam muito profundos, percebe-se que ele tem a firmeza e o caráter de nossos maiores antepassados. Tem uma vida consagrada e é muito humilde.

      — Deus ouviu então as orações de uma viúva! — exclamou Hannah, erguendo os braços. — Na minha velhice, era somente isso que atribulava o meu coração. Como poderia a minha filha casar-se com alguém de nossa família, sendo nós tão pobres? Esta é uma grande notícia, Reb Elimelech, mais apropriada para o Sábado. Traga nesse dia o rapaz à nossa casa a fim de que ele possa ver a minha filha. Se os jovens simpatizarem um com o outro, providenciaremos, com a ajuda de Deus, para que se casem antes de findar o mês de Adar.

      O assunto encerrou-se nesse ponto. A viúva pegou a lâmpada de óleo que estava sobre a mesa e acompanhou o visitante até à porta. Como ele estava só, entregou-lhe a lâmpada para que pudesse iluminar o caminho. Ele a devolveria no dia seguinte. Hannah voltou em seguida para dentro de casa, onde a jovem Maria, sem sono, deitada na sua cama, contemplava pensativamente, com seus olhos negros e brilhantes, as estrelas que brilhavam através da janela. Tinha a impressão que lá do Céu infinito Deus também a contemplava como se ela fosse uma estrela. 

 (Continua amanhã)

SHLOMO YITZHAK

França (1040-1105)

(Transcrito em português contemporâneo, adaptado, revisado e enriquecido por Jefferson Magno Costa)

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