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sexta-feira, 8 de abril de 2022

A intervenção do Rabino Reb Jochanan

 


      Foi nesse momento que o rabino Reb Jochanan levantou-se para dar um ponto final a toda aquela discussão.

      — Nós todos somos filhos de Deus, e não é nosso costume em Israel estabelecer diferenças entre recém-chegados e antigos residentes. “O estrangeiro não afligirás, nem o oprimirás; pois estrangeiros fostes na terra do Egito” (Êxodo 22.21), diz a Escritura. E este jovem não é propriamente um estrangeiro, pois é da Casa de Davi e seu pai viveu entre nós. Consequentemente devo, não obstante todo o respeito que tenho pelo sacerdote, pôr um ponto final a esta discussão, já que ela não está trazendo vantagem a ninguém; ao contrário, só está causando aflição a um inocente. O jovem José ben Jacó tem todo o direito a esse casamento, e nós não estamos reunidos aqui para examinar os seus méritos, mas sim para regozijar-nos com o noivado dele com a jovem Maria. Portanto, digo, vamos cantar para o jovem casal, ao noivo José, que hoje é o rei, e a Maria, a noiva e rainha.

      Mas a questão não ficou encerrada ali, pois aqueles galileus eram homens implacáveis. Estavam acostumados a defender o que achavam ser seus direitos, e raramente fugiam de uma luta. Por isso, Hanina ben Safra voltou novamente ao ataque no dia seguinte, no mercado. Diante de um grupo de anciãos e outros homens respeitáveis que conversavam aproveitando a sombra de um alto e velho muro, ele, sem pedir licença a ninguém, começou o seu discurso:

      — Mesmo que se tenha investigado a respeito da família daquele rapaz, isso não é ainda o bastante para mim. Como parente da noiva, tenho o direito de insistir em que essa investigação satisfaça a mim e aos outros. Duvido, pois, da opinião do rabino. Os parentes deviam ter sido consultados primeiro.

      Sua insistência acabou despertando a curiosidade de alguns parentes da noiva que estavam por ali. Cleofas, o artífice que havia casado com Mariama, a irmã mais velha de Maria, lembrou a todos que fora severamente investigado antes de receber a permissão para casar. Outras pessoas que estavam no mercado foram atraídas pela discussão. Homens que ainda na véspera haviam acolhido amigavelmente o forasteiro, começavam agora a pensar nele com desconfiança, como alguém que tivesse invadido afoitamente Nazaré para arrebatar-lhes uma de suas mais nobres filhas.             

      A cidade de Nazaré, argumentavam, não era rica, e seus antigos habitantes somente com muita dificuldade é que podiam se manter. Não precisavam de outro carpinteiro ali para disputar-lhes o ganha-pão.

      Havia um fundo de verdade nas queixas daqueles homens. A cidade ficava junto à estrada que vinha da Síria à Galileia, e os carpinteiros viviam, em grande parte, dos consertos que faziam nos carro dos viajantes que por lá passavam. Essa fonte de subsistência era, portanto, bastante limitada. O solo de Nazaré, mesmo que não pudesse chamá-lo de árido, não podia competir com as ricas terras nas proximidades do mar da Galileia, sem mencionar ainda as do vale de Jezrael, que superava a todas.

As frutas de Nazaré – figos, tâmaras e amêndoas – amadureciam muito tarde no verão. A maior parte do vinho fabricado pelos pequenos produtores era demasiado fraco para enfrentar a concorrência de famosas vinhas, como as de Sichna, cujos produtos eram vendidos até no sul de Jerusalém para uso nos ofícios do Templo. O melhor dos vinhos nazarenos era qualificado para exportação somente na casa de cobrança de impostos em Cafarnaum. Dali  embarcava para a cidade grega de Decápolis, do outro lado do mar da Galileia. Os produtos importados a partir de Cafarnaum eram mais caros do que na sua terra de origem. Mas isso somente dizia respeito ao vinho.

Os demais produtos, devido a sua pobre qualidade, não encontravam mercado no exterior e não eram exportados. Eram vendidos dentro da própria Galileia, e por preços tão baixos que só davam para pagar os pesados tributos cobrados pelo governo. Assim, a maioria dos habitantes da Galileia era obrigada a levantar o dinheiro suficiente para sua subsistência como artífices – oleiros, carpinteiros e outras profissões semelhantes.

(Continua amanhã)

SHLOMO YITZHAK

França (1040-1105)

(Transcrito em português contemporâneo, adaptado, revisado e enriquecido por Jefferson Magno Costa)

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