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domingo, 24 de abril de 2022

AS MULHERES DE NAZARÉ ESCANDALIZAM-SE COM MARIA

 

AQUELA OCORRÊNCIA no poço tornou-se pouco tempo o tema de conversação em toda a cidade. Tanto as jovens como as matronas aguçavam a vista em direção a escandalosa virgem, procurando confirmação das suspeitas que as suas palavras haviam despertado. Faziam-no em qualquer lugar em que ela estivesse, fosse no mercado ou no poço, algumas com timidez, outras com ar de conhecedoras.

         – Bobas que sois! A barriga dela já está volumosa e ainda estais procurando descobrir qualquer sinal! escarneceu uma viúva que tinha a pretensão de conhecer algo do ofício de parteira.

         – O novo carpinteiro gosta de furtar os figos antes de estarem maduros, declarou a outra.

         Não demorou muito para que os boatos chegassem aos ouvidos das autoridades, e o rabino, juntamente com os juízes do tribunal, decidiram que o caso exigia uma investigação oficial.

         Acontecia que, sob o ponto de vista estritamente legal, o ato de coabitação entre noivo e noiva não constituía crime. De fato, era uma das três maneiras reconhecidas cara concluir um contrato de casamento. No entanto, deve-se acrescentar que a sua legalidade não amenizava de forma alguma a ação indecorosa, pois tais relações com uma noiva eram consideradas violação brutal do decoro e uma nódoa que ficaria para sempre na família da noiva. todavia, o ato em si não era suscetível de punição contanto que o noivo confessasse ser o autor e declarasse publicamente que escolhera tal método como o meio de consumar o casamento. No entanto, se ele negasse a sua participação no caso, a culpa de infidelidade caía toda sobre a noiva, a qual seria então estigmatizada como adúltera, e, para o crime de adultério, as leis de Moisés admitiam apenas uma punição – morte a pedradas. Com tal ameaça a pairar-lhes no espirito, as autoridades não sentiam disposição para mortificar uma filha de Israel, acusando-a de um crime capital. Decidiram, por conseguinte, interrogar primeiro o noivo. O caso ficaria encerrado imediatamente, se ele confessasse o fato.

         Como se poderia esperar, José ignorava completamente os boatos que agitavam a cidade, não obstante a nuvem de tristeza que pairava sobre os seus parentes. Cochichavam sempre a seu redor. Ficavam com as fisionomias carregadas toda a vez que ele aparecia, e mesmo assim José mal percebia a transformação e, certamente, estava longe de suspeitar a verdadeira causa de tudo aquilo. Achava-se demasiadamente absorvido com os preparativos de seu próximo casamento e economizava os seus magros ganhos para poder comprar presentes para a família da noiva e o vinho que deveria fornecer para a festa. Sabia o conceito em que um homem era tido pelo número de copos que se bebia nessa ocasião.

         José estava tão embebido nos preparativos e a eles se dedicava com tal ardor, que nem deu pela mudança na atitude de seu parente e amigo, Reb Elimelech, o qual começara a afastar-se dele, quase deixando mesmo de responder às suas saudações. Na família da noiva, as coisas eram ainda piores; seus membros murmuravam com azedume contra o jovem intruso que lhes destruíra a paz. A própria mãe de Maria refugiara-se num canto da casa numa noite em que José fora visitar a noiva.

         Foi na sinagoga que José viu que todo o mundo o evitava. Os homens não deram atenção às suas saudações e evitavam passar perto do banco em que se achava. Viu o olhar de zombaria e de desprezo que lhe atiravam. Ficou completamente surpreendido com aquele tratamento, pois ignorava tivesse cometido qualquer falta. Teria, ao mesmo tempo, rejeitado veementemente a idéia de que aquela hostilidade geral que começara a pesar-lhe terrivelmente no espirito tivesse qualquer relação com a noiva, principalmente com a sua castidade. Teria imposto o silêncio a qualquer homem que ousasse ferir a honra de uma filha de Israel. Permaneceu assim, na ignorância dos fatos, pois não encontrava justificativa para o tratamento cruel que lhe estavam dispensando.

         Foi, portanto, com genuína e profunda surpresa que recebeu uma intimação para comparecer perante o tribunal de Nazaré.

 

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