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sexta-feira, 15 de abril de 2022

PREPARAÇÃO DO CASAMENTO ENTRE JOSÉ E MARIA DENTRO DAS TRADIÇÕES DE ISRAEL

 

CAPÍTULO   IV 

O CONTRATO DE CASAMENTO ENTRE JOSÉ E MARIA DENTRO DAS TRADIÇÕES DE ISRAEL 


      A TRADIÇÃO EM ISRAEL exigia que o contrato de casamento de uma virgem fosse lavrado numa quarta-feira, e o de uma viúva numa quinta-feira. Isso no meado do mês, com a lua cheia e brilhante a fim de se ter boa sorte. Escolhera-se, portanto, a quarta-feira mais próxima, no mês de Adar, para o noivado do jovem José ben Jacob e da virgem Maria.

      Adar era o mês da felicidade. “Israel colhe alegrias quando Adar surge”, dizia o ditado. Aquele mês trazia consigo a encantadora festa de Purim e, com ela, as grandes celebrações da Páscoa.

      Trazia também a estação mais bela do ano, pois nessa ocasião, todos os campos nas vizinhanças de Nazaré se cobriam de papoulas, os ramos das videiras vergavam sob o peso de seus pequeninos cachos de uvas, as romãs estavam em plena florescência, e o fértil vale de Jezrael oferecia um admirável conjunto de cores com suas plantações de milho, jardins, vinhedos e bosques de oliveiras. A Galileia, durante o mês de Adar, parecia o próprio jardim de Deus, onde se erguiam as “barracas de Jacó” e se viam as pequeninas cidades e aldeias judaicas adornando a paisagem até ao longínquo monte Sinai. Nas encostas daquele monte, milhares de ciprestes, qual oceano de um verde vivíssimo, se estendiam até ao cume árido que recebera a maldição de Davi.

      A viúva Hannah pegou uma das grandes vasilhas de barro que se achavam à porta da entrada da casa – as mesmas vasilhas que guardavam no inverno o suco de uva, e que durante as restantes estações do ano serviam para nelas se fazerem as abluções – e levou-a para a câmara da filha, depois de enchê-la de água fresca da cisterna. Ajudou a noiva a banhar-se. Não demorou muito a aparecerem as amigas de Maria, as quais a vestiram de linho branco, e fizeram-lhe uma coroa com papoulas e folhas de oliveira para adornar-lhe a cabeça. Cobriram depois as paredes e o teto com flores colhidas nos jardins, e campos e colocaram galhos de oliveiras ao lado dos bancos que estavam enfileirados junto às paredes, à espera dos convidados.

      Vieram depois as matronas da cidade para auxiliar a viúva a preparar as iguarias. Amassaram o pão e cozeram-no, ao ar livre, em fogões improvisados. Fizeram bolinhos de mel para as crianças, as quais receberiam também nozes e frutas secas. Encheram os pratos de mel. Retirou-se da despensa toda a provisão de azeitonas pretas que lá haviam sido conservadas em sal e vinagre para que não se estragassem. Espalharam pelas travessas de barro fatias de tortas de figo. Odres de precioso vinho de tâmaras e de uva surgiram de seus esconderijos para honrar os convidados e saciar sua sede.

      Os vizinhos não vieram de mãos vazias. Haviam colhido em suas hortas legumes frescos que satisfaziam tanto quanto a carne, como, por exemplo, alcachofra, que se podia comer cozida e crua, e outros legumes que estimulavam o apetite e aqueciam o sangue, como cebolas e endros. Alguns faziam os comensais estalar a língua, como a erva-doce e o aspargo real, cujo gosto se reflete nos olhos, e que seriam servidos somente às pessoas delicadas e às crianças. Para atender aos demais convidados, havia sobre a mesa muitas jarras de leite e coalhada, queijo curado e, aqui e acolá, blocos de manteiga com mel.

      Não se serviria carne. Os habitantes de Nazaré eram demasiado pobres para se dar ao luxo de matar um cordeiro ou um cabrito, até mesmo em ocasiões tão raras como o noivado de uma filha. Além disso, o uso da carne era circunscrito por complexas regras de sacrifício e ritos que se tinham de ser observados por ocasião da matança. A carne animal era uma iguaria reservada para aqueles que moravam em Jerusalém, onde se podia encontrá-la em abundância.

      Os moradores do campo raramente viam carne de uma Páscoa a outra quando viajavam para a Cidade Santa a fim de sacrificarem o cordeiro pascal. O mesmo se passava com o peixe. Esse alimento não era comum na casa dos pobres. Os pequenos peixes pescados no mar da Galileia e salgados nos portos das cidades de Cafarnaum e Sidom, jamais chegavam a lugares tão afastados como Nazaré. Podia-se encontrá-los apenas nos grandes centros, tais como Sephoris, Naim e Caná. Os moradores de Nazaré tinham, pois, de contentar-se com verduras e leite e seus derivados, a que se acrescentavam nos sábados e dias de festas ovos ou mesmo aves – isto é, se se encontrasse um entendido nas regras de matança.

 (Continua amanhã)

SHLOMO YITZHAK

França (1040-1105)

(Transcrito em português contemporâneo, adaptado, revisado e enriquecido por Jefferson Magno Costa)

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