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quarta-feira, 4 de maio de 2022

MARIA CONFESSA A JOSÉ QUE ESTÁ GRAVIDA

 

               


         Poucas palavras foram trocadas entre José e Maria quando ambos se achavam sentados juntos no telhado da casa algumas horas mais tarde, naquela noite. José mantinha a cabeça imóvel entre as mãos, os olhos fitos no chão. Não via que Maria o contemplava com infinda compaixão e com expressão tal, como se os seus olhos pudessem afastar as sombras que cobriam o rosto do jovem, cujas feições pareciam ter envelhecido.

         – Diz-me uma palavra, Maria, balbuciou José rompendo finalmente o silêncio. Diz-me que não tem razão todos aqueles que te acusaram. Diz-me que eu acreditarei. Sei que o teu coração não encerra nenhum pecado.

     Eles falaram a verdade, José.

     Quem?

– Aqueles que disseram que eu trazia em meu ventre a esperança do mundo.

     Maria, eu não compreendo o que queres dizer.

     Vou ter um filho.

Um estremecimento percorreu o corpo de José. Ele ergueu a cabeça e levantou-se depois com certa dificuldade.

– Maria, sei que não há maldade em teu coração, disse. Possa Deus proteger-te sempre, estejas onde estiveres.

Curvou-se para a esposa e a deixou a sós na escuridão. Os olhos de Maria acompanharam a sua figura. Ela o viu atravessar cambaleante o jardim e desaparecer depois entre as casas iluminadas da cidade.

Ao chegar à pequena oficina de Reb Elimelech, José atirou-se no catre e começou a meditar no que devia fazer. Não alimentava ressentimento algum para com Maria, pois, no íntimo, sabia que não podia acusá-la de infidelidade. Tinha a certeza de que ela desejara dizer-lhe alguma coisa. Seus olhos lhe haviam falado com uma eloqüência que lhe era peculiar. Achava que só mesmo a obtusidade de seu espirito é que o impedira de compreender o que eles lhe queriam dizer. Haviam-lhe suplicado para que não a julgasse... Sim, Deus proibia que ele a julgasse. Ele tinha vindo de terras distantes... Quem poderia conhecer as atribulações por que ela passara antes de se terem encontrado? Quem podia saber da amargura que lhe pesava o coração, da qual se lhe via transparecer nos olhos apenas um vislumbre? Mas seria realmente amargura o que vislumbrara em seus olhos? Sem dúvida eles eram radiantes e esparziam um mundo de felicidade. Maria dissera que trazia no ventre a esperança do mundo. Ele não compreendera – e até mesmo naquele momento não compreendia o que ela quisera dizer com isso – mas a indizível alegria de seus olhos confirmavam aquelas palavras, colocavam-na longe do alcance de qualquer pergunta e de qualquer dúvida. Não podia caber no esplendor dessa alegria um pecado. Não inspirava piedade mas sim o desejo de se partilhar a sua felicidade.

Não havia, porém, lugar para ele naquela felicidade. Deveria ter surgido algum outro – alguém que ela julgara mais digno. Não estaria ele então sendo um empecilho para ela? Não iria ele ser a lembrança viva da censura? Não quisera condená-la. Fizera a sua obrigação. Assumira a responsabilidade do que se passara, confessara publicamente ter sido o autor de um ato vergonhoso qualquer que tivesse sido cometido. Maria salvara-se das garras da lei. Nada podia suceder-lhe agora. E, quanto a ele, a única coisa que restava a fazer seria afastar-se de suas vistas e sair de Nazaré, voltar para o lugar de onde viera. O povo da cidade iria naturalmente amaldiçoá-los quando saísse. Iriam dizer que casara com uma pobre órfã tão somente para abandoná-la depois, e seria, sem dúvida, uma coisa dolorosa deixar atrás de si um nome manchado, pensou. Poderia de algum lugar distante requerer o divórcio, de acordo com as leis de Israel. o que mais lhe iria pesar no espirito seria o sofrimento que causaria então ao seu parente, o bom Reb Elimelech. Desde o momento em que chegara até aqueles últimos dias, o velho Reb fora de uma grande bondade, protegera-o com toda a força de que dispunha. José sentiu-se torturado só em pensar no mau juízo que Elimelech haveria de fazer dele até o fim de sua vida. Mas até isso ele teria que suportar. Estaria disposto a pagar qualquer preço que poupasse Maria da vergonha e da aflição que a sua presença lhe causaria. Queria que ela ficasse imaculada e inocente perante a família e o povo de Nazaré.

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