— Senhor do mundo, Deus de Abraão, Isaque e Jacó, tu que protegeste e abençoaste em tudo o pai da minha casa, o teu amado servo Davi, faça com que eu seja bem-sucedido em minha viagem. Que eu siga pelo teu caminho verdadeiro, e que ao chegar ao lugar para onde tu estás me conduzindo, que eu possa cair nas graças da jovem que separaste especialmente para ser minha esposa. Que todos os seus parentes me aprovem, e que eu possa casar-me com ela, conforme tuas leis, e construirmos o nosso lar.
Ao erguer-se do chão úmido, José viu uma
cerração leitosa, semelhante a um grande lençol de lã, que continuava a se
estender sobre a planície circundada pelos montes, envolvendo as casas, os
ciprestes e as oliveiras, deixando que ele vislumbrasse apenas as partes mais
elevadas das árvores.
Ali no alto, acima daquela cerração, José sentiu como se
estivesse suspenso no ar. Ao contemplar o horizonte, viu como se alguém tivesse
derramado sangue nele.
Em poucos instantes, o Sol apareceria para
encher o Céu de uma resplandecente claridade. Pouco a pouco a paisagem foi-se
definindo, saindo da escuridão que unira o Céu e a Terra num só abraço. Mais
uma vez o firmamento se separava da Terra, como no primeiro dia da Criação.
José vislumbrou aos seus pés a pequena e humilde cidade de
Nazaré, que se comprimia entre os montes, como se estivesse encravada nas corcovas
de um camelo.
Banhada pelo orvalho, e no meio de uma
verdejante cinta de ciprestes, a acanhada cidadezinha surgia através do verdor
das árvores e da cerração que ainda cobria tudo ao redor. José guiou o jumento para o caminho que o
levava à cidade.
Achou inconveniente e imprudente procurar a casa da viúva, tanto
por ser muito cedo, quanto por ele ser um desconhecido naquela cidade.
Resolveu visitar primeiro um tio por parte de pai da futura
noiva, Reb Elimelech, com o qual era também aparentado. Da mesma maneira como o
falecido pai de Maria, Elimelech era um primo próximo de José pelo lado paterno
e, como ele também, vivia de seu trabalho de carpinteiro.
Na maioria das famílias de Israel, a profissão
dos avós passava de pais para filhos através de gerações. José decidiu,
portanto, dirigir-se primeiro à casa de Reb Elimelech e revelar-lhe, como
parente mais próximo, as suas intenções a fim de que o velho pudesse tratar de
seu caso perante a jovem e a mãe.
Conduzindo o seu jumento, ambos molhados
pelo sereno da noite, José seguiu por entre os loureiros que ladeavam o caminho
que conduzia à cidade. As moças de Nazaré, carregando bilhas sobre a cabeça,
dirigiam-se para o poço comum. Finas colunas de fumaça subiam das portas
abertas. Jornaleiros seguiam para os campos com suas ferramentas ao ombro. Os
gritos alegres das crianças, o mugido do gado e o ruído seco dos martelos
enchiam os ares. Rebanhos de carneiros e cabras dirigiam-se para as pastagens.
José guiou o seu jumento através das estreitas
e acanhadas ruas, agora palpitantes de vida. Dirigiu-se a umas mulheres que
teciam, sentadas à soleira da porta de uma casa, e perguntou-lhes onde morava
Reb Elimelech, o carpinteiro.
(Continua amanhã)
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